sábado, junho 03, 2006

O amor está sempre no ar


Comemos bastante chocolate em abril ao relembrarmos o amor de Cristo. Ao mesmo tempo, já preparavam as prateleiras para os presentes das mamães. Depois de comemorarmos os amores cristão e materno, ainda é tempo de mais amor, com a chegada do dia dos namorados em junho e mais um feriado cristão no dia quinze.
No dia seguinte às comemorações dos pombinhos é estréia da seleção brasileira na Copa, e o melhor presente para os namorados pode ser uma camisa nas cores verde e amarela. Ou branca e azul.
Em outros países, o dia dos namorados é comemorado no dia 14 de fevereiro. Na antiga Roma, esse dia era dedicado a Juno, deusa que abençoava os casamentos. São Valentim também morreu nessa data. Ele contrariou a proibição do imperador Cláudio II, que preferia os solteiros nas guerras, e realizou casamentos secretamente. Tornou-se patrono dos namorados. Quem não tem namorado ainda pode fazer suas preces a Santo Antônio, que tem sua data festiva no dia 13 de junho.O amor patriótico está colorindo as ruas de verde e amarelo querendo nossa torcida. Seria de mau gosto falar mal da alegria que contagia o povo nessa época e querer que falemos de outros assuntos. Sou professora da rede estadual, em greve novamente esse ano e meu pai está internado em um hospital da rede pública. Falar da educação e da saúde no país realmente não está na pauta de junho, mas estará depois da copa, quando lembrarmos que é ano eleitoral.
Mesmo que estejamos tristes com a corrupção dos políticos e com todas as tragédias, como os dias de terror que o estado de São Paulo viveu, talvez possamos esquecer as tristezas e lembrarmos somente das comemorações ao torcermos pelos gols. Devemos esquecer também que a seleção que vai jogar na copa não é toda composta de brasileiros. Não somos sempre enganados? Não vivemos fazendo de conta que está tudo bem?
Os funcionários públicos estamos alegres porque teremos ponto facultativo nos dias de jogo do Brasil. Afinal, é tudo o que ganharemos com a Copa, a não ser que orgulho pelos campeões milionários do futebol encha a barriga de alguém.
Mesmo se o Brasil perder a copa, devemos permanecer com muito amor até as eleições, afinal, a pátria amada, mãe gentil, que mais parece um filho levado, precisando de palmadas mais que colo, também precisa de amor e de uma boa educação.
Solange Firmino

(Texto publicado na Coluna Orkultural n° 19)

Nenhum comentário: